O número de proptech em Espanha cai pela primeira vez em 2024
Nas últimas décadas, o setor imobiliário passou por uma transformação profunda. A emergência de novas tecnologias deu origem ao que se conhece como “proptech” (“property technology”), empresas que combinam o setor imobiliário com a inovação tecnológica para melhorar a forma como compramos, vendemos e gerimos propriedades. No entanto, pela primeira vez desde a sua aparição no panorama espanhol, o número de empresas proptech começou a diminuir em 2024, de acordo com o relatório PropTech Trends, elaborado pela PwC em colaboração com TheFringe/Labs e a API da Catalunha.
Ascensão e estabilização das proptech em Espanha
Desde 2017, o ecossistema proptech em Espanha registou um crescimento meteórico. Naquele ano, operavam apenas 50 startups neste setor, mas em 2023 o número tinha subido para 548, representando uma importante quota na economia digital do país. Estas empresas dividem-se principalmente em duas categorias: 60% são B2B, ou seja, prestam serviços a outras empresas, e 40% são B2C, focadas diretamente no consumidor.
O sucesso das proptech nos últimos anos foi impulsionado por vários fatores, entre os quais se destacam a digitalização dos processos imobiliários, a automação de tarefas e a integração de tecnologias emergentes como o big data, a realidade aumentada e a inteligência artificial. Graças a estas ferramentas, as proptech conseguiram melhorar a eficiência e transparência no setor, facilitando uma tomada de decisões mais ágil tanto para empresas como para particulares.
Contudo, 2024 marcou um ponto de inflexão. Após vários anos de crescimento sustentado, o mercado começou a mostrar sinais de saturação, e os números refletem uma ligeira queda. Nos últimos dois anos, aproximadamente 90 startups desapareceram, 48 delas só em 2023.
Quais são os fatores que explicam o declínio?
Esta retração no número de proptech não é exclusiva de Espanha. A diminuição de startups no setor imobiliário tecnológico está a ocorrer a nível global, em parte devido à queda no financiamento de projetos tecnológicos, uma tendência que afeta toda a indústria. Os investidores tornaram-se mais cautelosos, exigindo maiores garantias de rentabilidade antes de investir capital em novas empresas. Além disso, o foco passou de priorizar o crescimento e a expansão para centrar-se na rentabilidade e sustentabilidade dos negócios.
Outro fator importante foi a correção nas avaliações das startups. Durante os anos de boom, muitas proptech atingiram avaliações muito elevadas que, em alguns casos, não refletiam a realidade do seu negócio. Esta correção impactou negativamente a capacidade de acesso ao capital para muitas delas, especialmente num ambiente macroeconómico incerto, caracterizado pelo aumento das taxas de juro e pela menor disponibilidade de crédito.
Concentração do ecossistema
Apesar desta queda, o ecossistema proptech em Espanha continua a ser um dos mais dinâmicos da Europa, concentrando-se principalmente na Catalunha (32%) e em Madrid (29%), com Valência em terceiro lugar (8%). Este fenómeno reflete a forte aposta na inovação nestes centros urbanos, onde as empresas estão a adotar novas tecnologias para se manterem competitivas num mercado cada vez mais complexo.
Em particular, a Catalunha e Madrid têm atraído maiores investimentos estrangeiros, dado que 12% das proptech que operam em Espanha têm a sua sede noutros países europeus, como França, Itália e o Reino Unido, enquanto 4% provêm de outros mercados internacionais como os Estados Unidos ou Singapura. Isto mostra o crescente interesse das empresas globais em entrar no mercado espanhol e aproveitar as oportunidades que este oferece.
Desafios para a adoção da tecnologia
Embora as proptech tenham melhorado significativamente a eficiência do setor, ainda enfrentam importantes barreiras para uma adoção mais generalizada. O custo das soluções tecnológicas é uma das principais preocupações dos profissionais imobiliários, juntamente com a falta de suporte técnico adequado para implementar e manter estas ferramentas. Além disso, muitos profissionais imobiliários admitem que o ecossistema de mais de 500 empresas é difícil de navegar, o que os impede de identificar claramente quais são as soluções mais adequadas às suas necessidades.
No entanto, o impacto positivo da tecnologia no setor é inegável. 100% dos profissionais do setor admitem que a tecnologia melhorou a sua eficiência, e 50% garantem que o fez de forma significativa. Além disso, oito em cada dez profissionais notaram um aumento na satisfação do cliente desde que integraram novas tecnologias nos seus processos.
O futuro das proptech em Espanha
Apesar da recente diminuição do número de startups, o futuro da tecnologia no setor imobiliário é promissor. As expectativas dos profissionais são claras: 73% planeiam adotar novas tecnologias num futuro próximo. A inteligência artificial, os chatbots e a integração de dados mais avançada nos CRM configuram-se como ferramentas essenciais para melhorar a comunicação com os clientes e otimizar os processos de negócio.
A IA generativa está a ganhar terreno no setor, e mais de 60% da população confia em empresas que utilizam esta tecnologia para tomar decisões baseadas em dados. Num ambiente de crescente complexidade, as proptech oferecem uma solução viável para superar muitos dos desafios atuais do mercado imobiliário, sendo provável que continuem a ser atores-chave na evolução deste setor ao longo do tempo.
Embora o número de proptech em Espanha tenha diminuído em 2024, a digitalização do setor imobiliário está apenas a começar. As empresas que conseguirem adaptar-se às novas exigências do mercado e oferecer soluções tecnológicas mais acessíveis e eficientes continuarão a traçar o caminho para o futuro do mercado imobiliário.