“É necessário aumentar a produção de habitação acessível”

Manel Rodríguez, CEO del Grupo Salas. Manel Rodríguez, CEO of Grupo Salas. Manel Rodríguez, PDG de Grupo Salas. Manel Rodríguez, CEO di Grupo Salas. Manel Rodríguez, CEO do Grupo Salas. Manel Rodríguez, CEO von Grupo Salas

“É necessário aumentar a produção de habitação acessível”

O Grupo Salas é o principal promotor de habitação social na Catalunha e um dos adjudicatários da terceira fase do Plano Vive da Comunidade de Madrid. Com mais de 30 anos de trajetória e uma equipa de mais de 270 profissionais, a empresa entregou mais de 4.000 habitações em todo o território nacional. Nesta entrevista, Manel Rodríguez, CEO e acionista do Grupo Salas, fala-nos da vocação social da promotora e do problema de acesso à habitação, especialmente para os mais jovens, um dos maiores desafios do setor imobiliário.

Quais foram os principais desafios que a promotora enfrentou nas suas três décadas no mercado imobiliário?

Ao longo dos anos, o mercado imobiliário sofreu mudanças devido aos ciclos específicos do setor, mas também foi impactado por flutuações económicas e financeiras, como o aumento das taxas de juro e a restrição do crédito hipotecário. Às vezes, fatores externos, como a pandemia, afetam-nos diretamente. De qualquer forma, a chave está em trabalhar sempre a longo prazo e ter força financeira para superar estes altos e baixos.

Que tipo de projetos imobiliários desenvolvem? O que vos diferencia da concorrência?

Promovemos edifícios multifamiliares destinados à primeira residência, para venda ou aluguer. Estamos especializados em habitação acessível, o que é o nosso principal elemento diferenciador. Não desenvolvemos habitação de luxo, moradias unifamiliares ou segundas residências. Estamos sempre no setor “central” do mercado, a classe média que procura “casas para viver”, e isso permite-nos garantir a procura, um aspeto chave do nosso posicionamento: temos sempre 90% das casas pré-vendidas!

Para quem está a pensar em comprar uma casa, diria que é uma boa altura para o fazer ou para investir no setor imobiliário?

Comprar uma casa é uma decisão vital muito importante, que não deve ser vista apenas como um investimento financeiro, mas sim como um investimento pessoal. Se é a casa de que a família necessita, é um bom investimento. A experiência diz-nos que os investimentos imobiliários são sempre um bom investimento patrimonial: é um valor-refúgio que, nas localizações de alta procura, aumenta sempre de preço. Mesmo após a crise imobiliária de 2007, as habitações em zonas de procura real recuperaram rapidamente o seu valor. As compras especulativas sem uma procura real por trás são outra questão!

Todos os especialistas concordam que não há habitação suficiente para satisfazer a procura. Que medidas poderiam mitigar o problema?

Este é realmente um dos problemas mais complexos que a sociedade enfrentará nos próximos anos. Todos os estudos demonstram que é necessário duplicar a produção, especialmente de habitação acessível, não só para atender ao ritmo que a imigração e a criação de lares exigem, mas também para compensar o défice acumulado nos últimos cinco anos.

Para aumentar o ritmo de produção, é preciso conjugar vários fatores. Em primeiro lugar, a disponibilidade de terrenos urbanos. É necessário considerar o aumento da população: por exemplo, a região metropolitana de Barcelona (que vai de Vilanova a Mataró, incluindo o Vallès) já supera os 5 milhões de pessoas. Não podemos continuar a “consumir” território onde ele não existe, por isso é necessário densificar os planos urbanísticos e agilizar o seu processamento. A administração pública deve atuar como agente urbanizador em grande escala, controlando as mais-valias, mas garantindo a disponibilidade de terrenos urbanos finalistas.

A administração pública, que controla todo o processo, deve também ser ágil, clara e estável. A regulamentação urbanística, a fiscalidade, os alvarás de construção municipais, os registos cadastrais, os certificados de habitabilidade… O processo de promoção de habitação é hiperregulado e o setor necessita de clareza, estabilidade e agilidade: um pacto de Estado transversal e de longo prazo para a promoção de habitação.

“É necessário densificar os planos urbanísticos e agilizar o seu processamento. A administração pública deve atuar como agente urbanizador em grande escala.”

A disponibilidade de financiamento é também um fator importante. O setor imobiliário consome muitos recursos financeiros. Desde a crise imobiliária, o crédito foi reduzido, o que foi “saudável”, mas agora há uma grande capacidade de investimento e endividamento que precisa ser utilizada, com taxas de juro acessíveis. Estou a falar de aumentar o crédito para promotores e aumentar as hipotecas para as famílias.

Além disso, é importante destacar a capacidade produtiva. As casas têm de ser construídas: não é um processo teórico, mas uma questão material que envolve muitos agentes. Quando falamos em duplicar a produção, estamos a falar de pressionar um dos principais setores produtivos do PIB. Aqui precisamos de formar muita mão-de-obra, que terá de ser estrangeira, precisamos de muita imigração e, sobretudo, precisamos de apoiar a industrialização do setor, que continua a ser um setor de produção tradicional com meios obsoletos.

Os preços das habitações e rendas estão em níveis históricos. Que medidas devem ser tomadas para melhorar o acesso à habitação?

As principais medidas devem visar aumentar a oferta, uma vez que o desequilíbrio entre oferta e procura é o que está a causar a crise atual.

Por outro lado, para evitar uma escalada dos preços, somos favoráveis à limitação do uso e da especulação económica com as habitações destinadas a outras atividades económicas, como o turismo. Faz todo o sentido, porque se não os centros históricos das cidades turísticas se transformarão em parques temáticos.

“Os investimentos imobiliários são sempre um bom investimento patrimonial, um valor-refúgio.”

Em paralelo, acreditamos que, de forma excecional e temporária, enquanto se trabalha nesse aumento da produção, algumas limitações temporárias possam ser implementadas, como, por exemplo, a limitação artificial das rendas, mas sempre de forma provisória. Temos de estar cientes de que as medidas para limitar artificialmente as rendas serão contraproducentes a médio e longo prazo, se não for corrigida a produção de novas ofertas.

Resolver o problema do acesso à habitação para os jovens é precisamente um dos maiores desafios do setor imobiliário. Esta situação poderia ser resolvida com um maior parque de habitação pública a preços acessíveis. Que percentagem de habitação social gere a Salas atualmente?

O Grupo Salas destina 50% da sua produção a habitação social para arrendamento e outros 25% a habitação social para venda. Apenas 25% da nossa produção é habitação livre para venda. Acredito que muitos outros agentes precisam aumentar a produção de habitação acessível, pois é o que o país necessita. O nosso trabalho como promotores não é apenas uma questão financeira: somos os fornecedores de um bem de primeira necessidade e temos uma responsabilidade social a este respeito. Na Salas, este princípio orienta os nossos planos de crescimento e expansão.

A empresa opera principalmente na Catalunha e Madrid. Têm planos de expansão para novas áreas geográficas ou mercados?

Historicamente, também produzimos nas Baleares e esperamos voltar quando as condições forem favoráveis à produção de habitação acessível lá. Mais tarde, consideraremos a possibilidade de expandir o nosso modelo de produção de habitação acessível em grande escala para outros locais, mas por enquanto continuaremos a crescer na Catalunha e em Madrid.

Que tendências acredita que definirão o futuro do mercado de habitação em Espanha?

Por um lado, veremos um aumento dos preços das habitações de mercado livre em áreas de alta procura, como Madrid, Barcelona, a Costa Mediterrânea, as Ilhas e os centros urbanos das grandes cidades, transformando este mercado num bem de luxo.

Por outro lado, veremos uma produção em grande escala de habitação social e acessível, principalmente para arrendamento, que será acessível àqueles que não podem comprar. Além disso, a produção de outros modelos habitacionais, como coliving, flex living e senior living, também definirá o futuro da habitação em Espanha. E, no setor produtivo, haverá uma transformação para a industrialização e, paralelamente, para uma melhoria da sustentabilidade.

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